*recomendo ler ouvindo essa música:
https://open.spotify.com/intl-pt/track/2zhOjOH2DvARkRcCvCo7DC?si=f08bac315b794ac8
Uma janela se abriu, e eu penso “ quais outras então eu deveria fechar” ? Quando não esperamos absolutamente nada, o tudo se revela, a luz entra, e a mágica dos olhares se encontram cruzando quaisquer distancia, ainda que ensaiem disfarçar timidamente os fatos.
Encontro dentre tantos desencontros, ou desencontros dentre encontros? Símbolos espalhados por todo lugar, olho pra cima vejo uma casinha pequena, o que será que tem dentro dela? olho pro lado um incenso, um patuá para te salvar, uma espada de São Jorge para tirar mal olhado, um caderno na mesinha ao lado feita por mãos, lembro logo das minhas mãos segurando gemas de ovo, claras escorrendo das minhas mãos, que seguram as tuas, então paro e olho bem pro caderno, abro mas está em branco, o que é mais interessante ainda, não saber, não ler, mas ainda assim existir pistas.
Sempre são olhares. Meu olho meio mel esverdeado anda um pouco rápido e lento demais para perceber os mistérios por trás de toda luz vermelha. Por toda coincidência, providencia, devaneios.
Eu sempre leio, mas confesso que nada supera uma cartinha cheia de afetos a respeito do outro, e ali, enquanto eu lia, decidi ficar.
Quando o outro chega costumamos dizer “ não repara na bagunça” e é bem assim que eu me sinto quando decidir abrir uma frecha da porta, mas lembrei que ja abri as janelas dos meus olhos, que são o da alma, então mesmo com bagunça talvez possa existir poesia na varanda.
Não arruma nada, deixa eu bagunçar você. Já que os óculos são para enxergar longe, de perto fica tudo nítido para você? Meu olhar te assusta?
Um cigarro na boca, fumaça de pensamentos e palavras não ditas assopradas, depois sinto um fio de cabelo na língua, a gente ri dizendo “quanto cabelo” meu, seu, quem se importa, quero ver você, leãozinho.
Me dê razoes para ficar.
Nunca consegui dormir na casa de ninguém, e com ninguém, mas essa noite eu dormi, e me assustei. Acordei rápido, pensei tudo ao mesmo tempo, até que prefiro Icaraí a Botafogo de verdade, preparei um café e fui embora sem saber que o que senti era bom, e o medo se espalhou enquanto andava em direção alguma, que é assim que me protejo, fecho a janela? mas me lembrei de um poema da Rachel de Queiroz que diz “ Doer, dói sempre. Só não dói depois de morto. Porque a vida toda é um doer”.
Na parede próximo a sala, fui levantada, minhas pernas presas na sua cintura, sua mão grande me segurou, esses calos e essa dor na mão, tudo junto, um gemido, você agora segurando minhas mãos para cima, fui levada para onde? Os dias passam e eu ainda penso nisso, “ quantos dias isso vai ficar na minha cabeça” “ será se vai ficar ainda?” (ainda) tem sido esse lugar que penso, lembro e procuro. Agora escuta só, você pergunta “ cadê a musica”? Eu já não estava ouvindo mais nada.
Você entra, eu abro a janela, e essa é a nossa música.
Jessica, gostei! Estou ouvindo a excelente Fiona Apple. Ando mergulhado na música brasileira (instrumental, principalmente) e ouvi-la foi um alento, uma janela escancarada para uma viagem musical. Voz maravilhosa, palavras divinamente mastigadas e colocadas em nosso ouvido! :) Quanto ao seu texto, puro lirismo. A gente, feito criança pequena, se sente segurada pela mão e vai descobrindo tudo o que existe em seu parquinho...
Tava com saudades de te ler por aqui já. Que bom que voltou com esse texto maravilhoso!